O Cacique - lider tribal.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Comentário


Reforçando a argumentação deste post no "Cachimbo de Magritte".

Existe uma noção importante, que toda a gente está a ignorar: O que é o desemprego estrutural?

Façamos um pequeno exercício de abstracção antes de mergulhar de novo no assunto em discussão que é a liberalização/flexibilização das leis do mercado de trabalho.

O que é considerado "emprego" é a utilização de determinadas capacidades humanas com o propósito de criar algo que se pode denominar "valor". Esse valor pode ter diferentes propósitos, sejam egoísticos (ex. plantar couves para se alimentar), sejam altruísticos (ex. educar uma criança para esta se tornar auto-suficiente).

Ora, partindo desta noção KISS, o que é então o desemprego estrutural? É a incapacidade de um determinado indíviduo poder utilizar as suas capacidades para criar um determinado valor durante um período prolongado.

Considerando o que é afirmado no parágrafo anterior, muita gente afirma: Não interessa que valor está a ser criado, as capacidades são o vector que deve ser recompensado, não obstante esse valor eventualmente não ser útil aos restantes.

Incorre-se aqui num problema: Se i) não existe incentivo para alterar o valor que está a ser produzido com as capacidades do indivíduo, e se ii) é garantido que o valor inútil gerado é recompensado, então não vai existir a necessidade de adaptar as capacidades a um mundo em mudança.

Ou seja, a garantia de utilização das capacidades existentes acaba por destruir valor no todo da sociedade.

Saindo desta análise abstracta, qual é o impacto?

A garantia de um emprego para a vida estava intimamente ligada ao facto de o conjunto de capacidades que eram necessárias à criação de um determinado valor não se alterar no espaço de uma geração.

No entanto, pelas mudanças tecnológicas e sociais, existem dois tipos de capacidades que deixam progressivamente de ser necessárias:
1. trabalhos repetitivos -> substituídos por máquinas e automatismos
2. trabalhos tecnológicos e ciêntificos -> o acesso a informação leva a que conceitos e técnicas mudem mais rapidamente

Concluindo (deixarei os leitores continuar o argumento acima): Se queremos uma sociedade com acesso a um valor gerado correspondente a um maior output económico, ou seja à sociedade tecnológica tão presente nos discursos políticos de hoje em dia, é essencial que as capacidades se transformem de forma contínua. E isso implica forçosamente ou uma flexibilização de emprego, ou desemprego estrutural para as capacidades obsoletas. A alternativa é uma sociedade mais modesta, com menor pendor "tecnológico", mas que num mercado aberto pode, devido às disparidades na riqueza entre duas sociedades com diferentes modelos de desenvolvimento gerar conflitos.