O Cacique - lider tribal.

terça-feira, janeiro 18, 2011

A ferrovia, Portugal e a ruralidade


Pelo facto de ter sido aumentada a visibilidade deste blog, graças ao segundo blog preferido aqui no burgo, atrás do portugal contemporaneo, achei por bem colocar aqui algumas notas adicionais.

Recordando, e porque não leio o jugular, e me basta a causa foi modificada para ficar a saber tudo o que há ao redor no planeta portugal, Maradona (vénia), fez um comentário breve, sucinto, contendo uma fúria irrepreensível, ao post "Fanáticos da ruralidade" de JPC.

Estando o caro leitor, pode agora escrutinar as respostas e contra-respostas filosóficas com que nos fomos degladiando. E porque não tenho muito tempo para fios intermináveis de discussão (com grande pesar meu), quero aqui sumarizar a minha visão geral respeitante ao problema "ferrovia" em Portugal, bem como dar umas achegas sobre a "ruralidade" do dito País. E vou tentar manter-me o mais sumário possível e deixo os argumentos para uma outra ocasião.

Ponto 1. A gestão política da ferrovia em Portugal foi, desde o 25 de Abril, criminosa. E nunca devidamente julgada. Digo criminosa, porque houve vítimas a lamentar como resultado directo dessa gestão.

Ponto 2. Uma situação nunca é. O estado actual, considerando qualquer lei decente (as físicas e as religiosas, que as civis passam, em geral, uma esponja sobre os antecedentes), é resultado de uma evolução prévia. Por exemplo, o facto de existirem hoje 7 biliões de seres humanos no planeta, é resultado de muito amor e/ou actividade sexual, misturada com umas quantas guerras e catástrofes, com pós de investimento financeiro na natalidade (por exemplo, na Alemanha e em França) e "desinvestimento" superlativo (por exemplo, na China).

Ponto 3. Também o estado da rede ferroviária no país, é o resultado de muitas alíneas, que gostava de passar a destacar
a) a vontade de algum poder político no tempo da monarquia, para ter um meio de transporte mais eficiente e veloz no reino
b) a expansão ditada pelos interesse sócio-económicos, que dotou Portugal de uma rede intricada, mas incompleta*.
c) a opção técnica pela bitola ibérica na generalidade das vias, e métrica em diversos ramais que teve como consequência
i) material circulante redundante, multiplicação dos custos de manutenção.
ii) impossibilidade de ligação ao resto da Europa.
iii) aumento de transbordos (inicialmente não seria vísivel este impacto)
d) a localização das estações, geralmente afastadas dos centros urbanos
e) eliminação de troços antigos/em desuso
f) oferta de serviços limitada
g) procura de serviços limitada
h) o investimento preferencial em estradas e auto-estradas, e lentidão de projectos de modernização ferroviária

Ponto 4. O meio de transporte ferroviário tem vantagens e desvantagens face ao rodoviário. Não é, de resto, concorrente, antes complementar.

Ponto 5. Portugal teria muito a beneficiar com ligações de médio e longo curso, com boa cobertura territorial. Esta cobertura é fácil: Basta fazer ligações internacionais para comboios de mercadorias. Passageiros virão atrás.

Ponto 6. Um investimento no momento presente na ferrovia é positivo. Os meios de transporte rodoviários estão, neste momento saturados. Há oferta excessiva em zonas de densidade populacional reduzida, que torna a gestão de capacidade nos grandes centros urbanos impossível. A passagem de parte do tráfego para ferrovia é, por conseguinte, benéfica.

Ponto 7. Há opções estratégicas simples que podem beneficiar e potenciar, o efeito rede. A ligação da rede ferroviária nacional ao aeroporto do Porto, por exemplo, carece de sensivelmente 2000 metros de linha, em terrenos sem construção.
i) A rede ferroviária nacional terá de ser mudada para bitola Europeia, mais cedo ou mais tarde. Mais vale cedo, que tarde, e aproveitar outros canais, desaproveitados durante anos. ex: Linha do Vouga + Linha do Oeste. Estas servem uma população equivalente (ou superior) á Linha do Norte.

Ponto 8. A Rede de Alta Velocidade inquinou a discussão sobre o que é efectivamente necessário, num país com 800 km * 200 km. É necessário um rede ferroviária, em bitola Europeia, que permita o tráfego de mercadorias e passageiros.


Ponto 9. Não entendo porque é tão difícil perceber os pontos acima definidos.

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Sobre ruralidade, apenas tenho a dizer o seguinte: Não existe um mundo rural e um mundo urbano. Existe uma palete significativa de diferentes formas de ocupação do solo, que, sobretudo em Portugal é extraordinariamente diversa, o que implica uma gestão de prioridades igualmente flexível.


E mais terei a dizer, se tiver tempo.

Bear with me.



* (Haveria de ser objecto de estudo como a rede de auto-estradas nitidamente se sobrepôs aos traçados historicamente previstos para a generalidade das linhas)

2 Comments:

  • De Zé Povo a 20 de Janeiro de 2011 às 00:26
    Seria delicioso rebater o seu texto.
    Mas como o mesmo está enxameado de pequenos pormenores completamente falsos, não vou gastar muito tempo.

    Um exemplo: as automotoras reabilitadas série 2240 Alstom que efectuam os regionais Pinhal Novo-Tunes-Faro são eléctricas, logo não circulam nos regionais da linha do Oeste porque esta, a parti de Lisboa, só tem elecctrificação até ao Cacém...

    Dou-lhe só outro exemplo. Para que medite sobre o tema.

    O actual serviço Intercidades é normalmente composto por uma locomotiva Alstom série 1900 (veloc max 120 km/h) + 2 a 3 carruagens Sorefamente renovadas e aptas a 160 km/h; nos dias em que o comboio circula apenas com 2 carruagens, e por razões de frenagem/segurança, a velocidade máxima está limitada a 100 km/h.
    A locomotiva, com ca. 30 anos de idade, pesa 118 toneladas e tem capacidade para rebocar 900 toneladas; cada carruagem pesa 54 toneladas. Com duas carruagens, a locomotiva reboca cerca de 15% da sua capacidade máxima.
    A locomotiva consome entre 3 e 5 litros por km, mediante as cargas. A diferença entre pouca carga e carga máxima é reduzida.
    É caso único na Europa, talvez no mundo moderno: a força motriz pesa tanto como a carga rebocada.
    Ou seja: energeticamente o serviço é pouco interessante.
    "Então feche-se", dirá.

    Pois. Então ponha-se a seguinte questão: "não haverá hoje comboios mais leves, rápidos e económicos para este tipo de serviço de procura pouca intensa?"
    Resposta: há.Por exemplo, este: http://www.railpictures.net/viewphoto.php?id=338917&nseq=63

    Comboio a diesel a circular na Galiza, a provincia mais pobre de Espanha... a 160 km/h, plataforma rebaixada, climatização, espaço para bicicltes, autovending, sonorização, etc etc etc...

    Quero dizer: o problema do IC de Beja, assim como outros serviços, é uma total desadequação dos comboios às necessidades, quer seja por espaço a mais, velocidade a menos, consumo desmesurado, logística mais pesada, etc etc.
    Como se resolve? Fácil, comprando comboios. À medida. Para o serviço Regional e Médio Curso, eléctricos, diesel ou híbridos.
    São baratos? - custam muito menos que um estádio vazio e são muito mais úteis.

    Pergunta - "Então e porque não comprámos já esses comboios novos há anos?"
    Resposta: "Pergunte aos governos dos últimos dez anos se prepararam o futuro e pergunte também porque é que um concurso internacional para quase 40 novas composições foi cancelado por duas vezes, a última das quais pouco antes das anteriores Legislativas.

    Como vê, o seu "problema" tem solução. Portugal não tem é governantes capazes... valham-nos as SCUT e a gasolina a 1,5 eur, sempre a subir...

    By Anonymous Anónimo, at 6:25 da tarde  

  • Caro Zé do Povo, creio que estamos de acordo em relacão ao âmago da questão, não vejo porque teria necessidade de rebater o meu texto!

    Defendo porventura um caminho alternativo: Iniciar já a migracão de bitola (e eventual migracão de parte do material circulante), em linhas críticas preferencialmente (a Linha do Norte está saturada), qualquer ligacão internacional, nomeadamente o canal Porto-Salamanca, ou pelo menos um ramal em Pampilhosa que não obrigue à mudanca de sentido para comboios em sentido Norte-Sul, e investir, estou de acordo consigo, em mais Urbanos/Reginais que permitam um servico eficiente e eficaz (uma grande diferenca entre as duas palavras)

    Mais tarde apresentarei alguns dados interessantes sobre a utilizacao do comboio em Portugal.

    Cumprimentos,
    Daniel Rodrigues

    By Blogger dfrodrig, at 8:27 da manhã  

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