O Cacique - lider tribal.

segunda-feira, agosto 23, 2004

A parábola e o Espirto Olimpico


Recordo-me de um texto biblíco que falava do homem rico que dava esmolas enormes, e da mulher que tirava o pão da boca dos filhos para dar aos mais pobres que ela.

Francis Obikwelu, medalha de prata em Atenas e recordista europeu dos 100m, vai doar 33 750 euros a instituições de segurança social. Isto é mais ou menos o rendimento mensal de muitas das estrelas de futebol. Deve ser o rendimento semanal de Figo. Digo isto sem dados concretos, mas quem puder que me confirme esta percepção.

O gesto de caridade de Obikwelu é o de alguém que dá tudo. Que competiu pela glória, para ser um semi-Deus. Muitos desportistas, na nossa sociedade deviam aprender com o exemplo. Muitos jornalistas deviam aprender a dar mais destaque a alguém com esta capacidade de despojamento de bens materiais, que certamente podia comprar um carro desportivo com este valor, que a atletas que têm tudo e largam migalhas. Muitas pessoas deviam abandonar a cegueira proporcionada pelo futebol e aperceber-se que este é, cada vez mais, imoral e injusto. Em particular deviam desligar-se do futebol actual todos quantos clamam por mais solidariedade, justiça, rigor. Em suma, todos os políticos de bem, todos os cidadãos inteligentes e desejosos de construir um mundo melhor.

Não faço aqui a apologia da caridade, mas do desprendimento. Francis Obikwelu encontrou em Portugal uma casa por mero acaso. Colocou a bandeira portuguesa, a bandeira do resto do mundo, numa competição dominada pelos Estados Unidos da América. Não sei porque corre Francis por Portugal, mas estou-lhe eternamente grato. Que sejas exemplo, com o teu sangue novo, para um país tantas vezes bafiento.

Obrigado, Francis Obikwelu. E parabéns. Conquistaste o teu lugar no Olimpo, e no coração de tantos. Venceste!